colunistas do impresso

Frio, vinho e um dedo de 'filosofia'

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Pois, finalmente, depois de não-sei-quantas ameaças frustradas, infelizmente, o frio chegou. E o frio, os senhores que me acompanham há mais tempo, sabem, é tema obrigatório, ainda que incidental, em alguma das minhas crônicas pós-verão. E não importa o que eu tenha decidido - há já bastante tempo -, não mais brigar com o inverno ou com as temperaturas que trazem à nossa cidade e ao nosso Estado no outono e na primavera, mas especialmente no primeiro, cara e ares de invernia.

Os senhores, que me leem (segundo a última coleta de dados de um respeitado instituto de pesquisas gaúcho, meus leitores contumazes beiram já trinta generosas almas), sabem também, porque já falei disso, que aprendi alguns truques para enfrentar os rigores do tempo (usar camiseta sob a vestimenta mais pesada, aquecer os pés) e a encontrar alguns encantos nas noites geladas do pago. Um bom vinho tinto (tenho especial predileção por uns chilenos honestos e muito mais baratos que os nossos de qualidade semelhante), a lareira, o fogão a lenha e a possibilidade de alguma introspecção resultante dessa conjugação de fatores, por exemplo, suavizam as agruras invernais. Como, normalmente, estou envolvido com muitas coisas, em variadas atividades, ainda que parte delas se desenvolva de forma remota, cada vez mais sobra menos tempo para eu me encontrar e conversar comigo mesmo. Esses encontros sempre foram fundamentais, indispensáveis na minha vida, sempre precisei de "um tempo" só meu (acho que todos nós, uns mais outros menos, precisamos de "um tempo" só nosso).

Sabe, aquela coisa de DR? Pois é. Esses momentos servem para isso, para discutir minha relação comigo mesmo, com o mundo, com o universo, com Deus. Nesses mergulhos introspectivos é que me faço mais humano e mais digno do amor, do carinho e da amizade que recebo e mais habilitado a devolvê-los sem exigência de qualquer contrapartida. Quando nos sobra tempo para essas reflexões íntimas, fica mais fácil corrigir rumos, ajustar procedimentos, revisar atitudes, fica mais fácil repensar projetos de vida e renovar esperanças. Fica, eu diria, mais agradável e mais prazerosa a nossa relação com o mundo, a despeito de todas inquietações e tristezas que o mundo e a vida nos impõem.

Mas, voltando à vaca fria (isso é bem apropriado), a única coisa que "pega" e que me entristece em relação à chegada dos dias e noites gelados, é que a maioria das pessoas não tem acesso às coisas que me dão prazer. E mais que isso, se boa parte de nossos irmãos sequer têm como se agasalhar adequadamente para enfrentar as baixas temperaturas, como esperar que tenham condições de aquecer a alma com reflexões "filosóficas"? Juro, essa constatação não é mera decorrência do primitivo italiano que bebo, com parcimônia e sobriedade, nesta gélida noite de quinta-feira de um quase final do mês maio (é quando escrevo e reviso este e outros textos). Aliás, filosofices à parte, não tenho dúvida de que o calor, mesmo que não se preste a grandes ou pequenas reflexões, é muito mais democrático que a frialdade do mais ameno dos invernos. E a democracia é sempre rigorosamente necessária.

Carregando matéria

Conteúdo exclusivo!

Somente assinantes podem visualizar este conteúdo

clique aqui para verificar os planos disponíveis

Já sou assinante

clique aqui para efetuar o login

Camobi Anterior

Camobi

Namoro ou união estável? Próximo

Namoro ou união estável?

Colunistas do Impresso